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Desconstruindo a identidade de um 'eu separado'. Conversa com Kavish e Veetshish em Satsang.



Desconstruindo a identidade de um 'eu separado'. Conversa com Kavish e Veetshish em Satsang.
 
Kavish:

Veet, poderia falar um pouco sobre a criação de novos modelos de como se olha o mundo que ocorre após um grande despertar, um vislumbre ou mesmo após uma experiência mística?
Quando vem uma sacada muito profunda, há um impacto tão grande que parece que o 'eu' se dissolveu e que não há mais a 'pessoa' ali.
Mas vem o dia a dia e a vida, que é seu grande mestre, não deixa parar.
Essa conversa veio para apontar vários aspectos delicados que insistem na tentativa de afirmar um 'eu', e que aparece na forma: ‘Cheguei!’ e ‘Há um sinal de que tenho uma missão a cumprir!’ e todas essas belas histórias que a mente nos conta.
Isso é muito arraigado no condicionamento e às vezes é difícil de se perceber.
Nos encantamos tanto com essa leveza que vem com a clareza de simplesmente ser! Rapidamente criamos outros 'eus' como um modelo novo, sutil. E, com ele, a ideia de que as pessoas ‘precisam ver isso, precisam se curar, precisam alinhar os chakras’ e todas essas tentativas de evitar o incessante repetir das angústias.
E estas práticas não podem revelar Isso que é um Mistério, mas apenas amaina as angústias. E se a investigação não se torna realmente viva, tende a reforçar a ideia de um eu separado muito sutil e que fica delicado de ser olhada.
A partir de um ângulo mais amplo, agora vejo ainda camadas acontecendo aqui de querer recontar 'minhas' experiências e, assim, reforçar a ideia de criticar aqueles que tiveram um despertar e não investigaram profundamente.
Esta postura é forte, mas na luz que a tudo transmuta em Satsang isso tem sido 'dissolvido' de uma maneira inexplicada e amorosa.

E um alivio tremendo vem derrubando todas as armadilhas de uma ideia e modelos de um eu separado.

Namastê :)

Veetshish:       

Muito bom ver que esta confusão não está mais inconsciente aí, Kavish!

Nesta questão, o Satsang no zoom ontem fez surgir uma forma de apontar que apresenta dois fios: o 1o fio é este reconhecer da Presença/Consciência infinita, puro Ser onde os fenômenos vêm e vão.
Na maioria das vezes, este despertar traz sensações de paz e luz, de leveza e transcendência. É natural. Afinal a identidade contraída no eu individual se expande para uma não localidade, um sem limites.

O 2o fio é uma profunda investigação, uma conscientização deste mecanismo inerente ao funcionamento mental da psique humana que é o esconder, o eliminar mesmo das emoções e das sensações desagradáveis. Só um olhar honesto para ver quanto egoísmo, quanta arrogância e separação permanecem no fundo.
Ver que há sempre o desejo de lucrar, de comparar e ser "o melhor", tudo isso apoiado ainda na identidade com um "eu separado".
O 2o fio é um conhecer profundo do que é o viver. Um conhecer puro. Um olhar a partir do Ser para este mecanismo iludidor.
É honestamente reconhecer todas as artimanhas baseadas na raiz fundamental do apego e da aversão, da escolha e do desejo.
Isto é a investigação NO SER! Pois num átimo este olhar já está contaminado pelo mundo, disfarçado de um saber, colocado num modelo, um molde.
A vida não cabe em modelos, é reentrâncias e movimento.
A Consciência Sem Qualidades que tudo ilumina, do que tudo é feito, traz aos problemas o Real conhecimento, não a fuga e recusa da questão, mas a própria luz onde as questões surgem.
Só ao ver realmente os intrincados golpes do apego/ aversão/ neutralidade é que a armadilha não funciona mais!
E simplesmente tudo se revela perfeito puro conhecer, Absoluto sem nomes nem qualidades, além dos atributos.

E de forma inimaginável, nunca antes nem sonhada, a Casa se revela.


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